Os dois fazendeiros - Matheus Zucato

Livro:Os Dois Fazendeiros
Autor: Matheus Zucato 

Páginas: 68

Editora: Autografia

Dois velhos e viúvos fazendeiros, habitantes da pacata cidadezinha mineira de Caminho da Fé decidem encerrar de uma vez por todas uma disputa que estava adormecida há décadas: declarar o dono daquelas terras ao lado sul de suas fazendas.
Os filhos, desaparecidos ainda crianças naquele lugar, acreditavam que lá existia alguma coisa má.
O livro mostra os relatos que ambos os homens escreviam naqueles dias, os quais estão recheados de batalhas psicológicas, terror, suspense e planos de assassinar um ao outro.
Com um final intrigante e surpreendente, o livro não desaponta quem busca uma literatura diferenciada que prenda o leitor às suas páginas, buscando incessantemente pelo desfecho.

Quem acompanha as redes sociais da Cabine sabe o quanto sou apaixonada por Edgar Allan Poe, Sthepen King e afins. Sabe também que amo descobrir autores nacionais que vão além dos romances que dominam o nosso meio editorial, inovando nos gêneros literários.
Os Dois Fazendeiros é um resumo exato de destes meus amores, então não é de se estranhar que ele é o abre-alas no "Favoritos 2019".

❝Todos os seres humanos são tristes, mas quando são tristes juntos, confundem a tristeza pela felicidade.❞ 

Cada vez menos eu leio sinopse antes de iniciar uma leitura, ainda mais neste caso, que já conhecia a premissa do livro e agora que a li não posso imaginar um descrição melhor para esse livro que "não desaponta quem busca uma literatura diferenciada que prenda o leitor às suas páginas" , isso nos é proporcionado em pouquíssimas páginas, que foca a trajetória de apenas dois personagens e que é capaz de deixar marcas na mente de quem as lê.

O livro vem divido em três partes, três relatos. Sendo a primeira narrada pelo fazendeiro Enrico Manucci, um velho teimoso, a segunda pelo seu vizinho de terras, João Pinto Brasta. Ambos vivendo suas viuvezes anciãs. E a terceira parte nos trás o desfecho da trama, mas isso vamos falar mais pra frente, agora vamos conhecer o conflito que rege esse enredo.

A décadas os dois velhos disputam um pedaço de terra entre suas fazendas, pedaço esse que já serviu de cenário para a bela amizade entre as duas famílias, mas diante do orgulho de ambos esse canto transformo-se em uma visão infernal, talvez infestada de todos os tipos de demônios e segundo as crenças, a morada de uma bruxa.

O orgulho nocauteia a razão e destrói qualquer vontade do homem de se exercer o bem.

Prontos para por um fim nesta, indireta, disputa que cruza a amizade, um planeja a morte do outro e deixam isso registrado. São estes registros que ocupam as páginas das duas primeiras partes do livro e eu achei isso genial. A diferença na narrativa dos dois personagens é notável, Enrico por exemplo descreve os momentos atuais de sua velhice com uma linguagem rebuscada, enquanto Brasta, com palavras simples, nos dá um nostálgico vislumbre de como chegaram aquele momento.
Essa narrativa em primeira pessoa trás confidencialidade ao que esta sendo dito diretamente ao leitor, nos transformando no interlocutor da história.

Outro ponto notável neste livro são as referências literárias, que traz a mesma estrutura da obra de Stephen King, 1922 e O Coração Delator, de Edgar Allan Poe, onde o personagem, desesperado, planeja meticulosamente como por fim ao seu problema. O estilo kafkiano também se faz presente nas reflexões que os relatos despertam, assim como na escrita curta e objetiva usada pelo autor.

A trama é extremamente original e envolvente, assim como é cheia de suspense, onde a sanidade dos personagens pode ser colocada em julgamento diante de suas atitudes, destacando os aspectos psicológicos deles. Imagine os traumas de um homem que ao longo da vida perde esposa e filho de forma trágica, onde, segundo ele, a causa é incontestável! Isso serve de motivação suficiente para colocar em prática seus planos.

Mesmo os cegos de Saramago poderiam ver o que se passa nestas terras, camarada!

O ponto de virada é o desfecho do livro, a terceira parte, que traz um clímax impactante e surpreendente para  história desses dois velhos.  A descrição  final é tão visual que aprofunda o clima sobrenatural que permeia toda história. Uma história contemporânea com ecos de importantes obras literárias, onde o autor conseguiu provocar sensações, criar expectativas e deixar lacunas a serem preenchidas pelo leitor, que a essa altura, já foi seduzido pela diabólica trama. Mais do que recomendado!